O Escravocrata de Jacarehy: João da Costa Gomes Leitão

Os artigos de jornais e revistas apresentam forte contribuição para o desenvolvimento cultural, da história e das comunidades; o Patrimônio Cultural recebendo atenção e destaque dos gestores públicos e privados, pode contribuir fortemente para o desenvolvimento de mão de obra especializada, postos de trabalho, economia criativa, empreendedorismo e Turismo; por esse motivo, o artigo desse mês é sobre os documentos antigos, os acervos e personagens da cultura e imaginário popular local; destacando a história da pesquisa pioneira sobre o português João da Costa Gomes Leitão, o escravocrata de Jacarehy; pelo mesmo, despertar muito interesse em estudantes, pesquisadores e pessoas em geral de Jacareí e região.

João da Costa Gomes Leitão o escravocrata de Jacarehy, 1876

Ao retornar da Itália para o Brasil, voltei a frequentar mais assiduamente a minha cidade de Jacareí, resgatei alguns estudos sobre o Arquivo Público Histórico de Jacareí e os seus conjuntos documentais. Dentre eles,“cresci os olhos” sobre os documentos do Fundo Fórum.

Fundo Fórum: Esse é o nome que recebe o conjunto de documentos que foi resgatado, na década de 90, do arquivo do Fórum, da Justiça e selecionados para permanecerem em Jacareí, por Adelmir Morato de Lima, então Diretor Executivo do MAV-Museu de Antropologia do Vale do Paraíba; permanecerem em Jacareí como acervo de um arquivo histórico local, ao invés de seguirem para um Arquivo da Secretaria de Justiça do Estado de São Paulo, em Jundiaí; então eu, como Jacareiense genuína que sou, sabia da existência do Inventário do João da Costa Gomes Leitão,  já há muitos anos, em meio a esses documentos do Fórum e resolvi buscar o acesso a ele e fazer sua transcrição, visando contribuir com a historiografia local.

Inventário de João da Costa Gomes Leitão, 1879

Em decorrência das pesquisas acerca desse personagem, fui falar com algumas pessoas que tinham permanecido na cidade, e que poderiam me dar informações sobre algum estudo de história acerca desse cidadão, para eu não repetir percursos de investigação histórica já feitos. Na ocasião, todos me responderam com poucas palavras que, ele era um “escravocrata”. Disseram -me que era um escravocrata e por isso deveria ser banido da história local, que não era objeto de pesquisa de ninguém.

Eu entendi tal posição e mentalidade vigente (afinal estávamos e estamos em terras do “Coronel” João da Costa Gomes Leitão!!!), visto que, sabia que o órgão cultural da cidade, a Fundação Cultural de Jacarehy “José Maria de Abreu”, após ter dispensado o Diretor executivo do MAV, Adelmir Morato de Lima, não desenvolvia pesquisas historiográficas, nem tinha nenhum setor de incremento e estímulo às pesquisas históricas institucionais, bem como não disponibilizava (e não disponibiliza até hoje!!!) seus acervos arqueológicos, pois não era interessante para parte dos dirigentes de tal instituição, que utilizava o Núcleo de Arqueologia, (criado pelo ex diretor Adelmir Morato de Lima), não para disponibilização ao público,  de acervos históricos e arqueológicos, mas para outros fins... e esse assunto de política cultural e legislação de temas culturais, era quase desconhecido para os gestores locais no período: administração Marco Aurélio de Souza do PT.

https://www.arqueologiajacarehy.com/

Naquela época, eu tinha 43 anos e játinha desenvolvido estudos e trabalhos em pesquisa científica histórica com metodologia de pesquisa, em outros países, e sabia que o fato de um cidadão ter tido a conduta incorreta, não era motivo para ser banido da história local, mas pelo contrário; deveria sim ter suas ações investigadas, registradas e divulgadas para que as pessoas pudessem reconhecer os cidadãos e seus feitos e raciocinar a respeito dessas ações, desses homens de outros tempos; principalmente quando esses personagens tem um histórico de representatividade social e institucional, tendo ocupado cargos públicos e terem deixado suas presenças marcadas no imaginário popular de modo tão intenso como é o caso do “Coronel” João da Costa Gomes Leitão, o escravocrata de Jacarehy, o construtor do Solar “Gomes Leitão”, o homem que mudou o leito do rio, que emparedou a própria filha nas paredes de seu Solar, o homem que quando morreu, dentro do caixão colocaram um cacho de banana, porque ele era tão ruim, que o diabo levou o seu corpo para as trevas... essas eramas estórias sobre ele.

Solar “Gomes Leitão” 1857

Um pesquisador, historiador, não deve se impressionar com conhecimentos superficiais de objetos de estudo e se limitar aos juízos a ele feitos; mas deve avançar nas investigações através das fontes primárias e secundárias disponíveis ou não para a pesquisa.

Decidi então, ir na contramão das mentes da “elite” e gerentes culturais Jacareienses e dei encaminhamento a transcrição e revelação dos primeiros dados sobre João da Costa Gomes Leitão, incluindo-o na apresentação oral do TCC e na monografia de conclusão de curso: “PRESERVAÇÃO DO PATRIMÕNIO CULTURAL DE JACAREHY” – UNIVAP/ 2008.Na ocasião, apresentei os dados cronológicos, de genealogia, de localização, de resgate das informações sobre o personagem, parte de seus feitos institucionais e índices que apontavam para as suas atividades ilícitas e informações sobre o nosso Arquivo Público Histórico de Jacarehy.

https://www.patrimonioculturaljacarehy.com.br/patrimonio-jacarehy/85-categorias/arqueologia/120-tcc-preservacao-do-patrimonio-cultural-de-jacarehy-2008.html

Resultado e nota: 10 (DEZ)! As professoras admiraram os dados apresentados e posteriormente, ainda realizaram projeto patrocinado pela FAPESP, para desenvolver ações de organização de documentos dentro do nosso Arquivo Público Histórico de Jacarehy e com esse fato, já observamos, as possiblidades, benefícios e oportunidades de emprego, que os documentos antigos,os bens culturais ofereceram às citadas professoras,pesquisadoras(como dizia meu pai Leonel Papera: “Em terra de cego, quem tem um olho, é Rei!”),bem como, poderiam ter oferecido às pessoas estudantes e pesquisadores de nossa cidade também, desenvolvendo o mercado de trabalho no setor da cultura, no segmento da Arquivologia e aspectos da metodologia de pesquisa histórica em nosso município, que é tão rico e valioso em seus acervos documentais, arqueológicos, antropológicos e histórico-culturais.

Sobre a rentabilidade na economia e no mercado de trabalho, em torno das informações e bens do Patrimônio Cultural, importante citar que esses temas do nosso patrimônio histórico local, depois de revelados, valorizados e inseridos por mim na Internet desde 2007 com o primeiro TCC sobre o tema e lançamento do primeiro Blog sobre o Patrimônio Cultural de Jacarehy, já renderam vários $$$$$$ cifrões para alguns munícipes Jacareienses, através de projetos culturais e publicações de livros com verbas privadas e principalmente livros feitos com o dinheiro público através daLIC – LEI DE INCENTIVO A CULTURA, instituída em 1995, que permite que empresas privadas destinem 50% do imposto devido (ISS ou IPTU) para incentivar projetos culturais: Lei Municipal no. 3.648 de 17 de maio de 1.995, regulamentada pelo Decreto Municipal no 552/2003 e suas alterações - Decreto no 967, de 21 de Outubro de 2004 e Decreto no 132, de 28 de Julho de 2005.

Até mesmo o escravocrata de Jacarehy “Coronel” João da Costa Gomes Leitão, anteriormente tão rejeitado na história do município, passou a ocupar espaço importante na literatura local, aprovada pelos “jurados” do poder público, pois os proponentes de projetos de publicação de livros sobre a história local, passaram a correr atrás de seus dados para nutrirem os seus projetos de livros, que conseguiram passar pelo crivo dos olhares da comissão de funcionários da Fundação Cultural de Jacarehy, comissão esta que escolhe os projetos a serem financiados com o dinheiro público; hilário que quase sempre a mesma comissão verse os olhos para os mesmos escolhidos, conforme se vê nos resultados da seleção de projetos através do Boletim Oficial de Jacareí; mas de qualquer forma, o sistema de produzir livros e projetos sobre a história local e receber dinheiro público para isso, não deixa de ser um segmento em crescimento no setor.

Outro fator no crescimento do setor que devemos destacar, foi notado a partir do interesse pelo tema Patrimônio Cultural de Jacareí e temas culturais; pois ao meu pioneiro escritório de Genealogia e pesquisa histórica, localizado em Jacareí, e meus endereços na rede, se dirige um público amplo, por vários motivos, em busca de informações sobre o setor e seus segmentos, visando a realização de trabalhos, projetos e profissionalização,  para ingressarem de algum modo, nesse universo, ainda tão desconhecido e pouco valorizado em nosso município e país.

É através da manipulação, organização, restauro, preservação, descrição, transcrição,  disponibilização de documentos antigos e bens materiais/ imateriais culturais e valorização dos mesmos, que podemosversar os olhos sobre o passado, rastrear os dados e fatos e descrevê-los, revelar polêmicas, desmembrar as lendas e casos, entender o imaginário popular, observar o presente e decidir melhor o futuro; bem como ilustrar as mentes sobre o passado, a importância de preservar as Memórias e conhecer as oportunidades de trabalho e empreendedorismo latentes nos vários segmentos do setor cultural e do Turismo.

Boa leitura a todos!

Se você quiser conhecer mais sobre o “Coronel” João da Costa Gomes Leitão e sobreo s assuntos, abordados nesse artigo, visite os meus sites e me acompanhe nas redes sociais:

www.patrimonioculturaljacarehy.com.br

http://patrimonioculturajacarehy.blogspot.com

https://www.arqueologiajacarehy.com/

www.zecupido.com.br

https://www.youtube.com/channel/UC-MdpPTVZ_YbDlh_L-LNU1g

Cesira Papera, 57 anos, é cidadã Jacareiense, ítalo-brasileira, historiadora, genealogista, escritora, sócio-membro da ASBRAP nº 328, professora de Língua e Cultura Italiana, Diretora do Coletivo Circolo Italiano de Jacareí, Consultora para assuntos de cidadania italiana e portuguesa; pioneira nas pesquisas sobre o Patrimônio Cultural de Jacarehy, criadora e mantenedora dos primeiros sites sobre o assunto.